
Ainda não sabemos quando teremos o pico e a esperada curva do COVID-19. As autoridades sanitárias e de saúde em todo o mundo garantem que o isolamento social, a quarentena e o bloqueio total (lockdown) são os remédios mais indicados para segurar o número de contágio. Alguns países estão pagando caro por não ter adotado a estratégia em tempo hábil. Os EUA e o Reino Unido são dois exemplos. Outros, com o isolamento, conseguiram importantes vitórias no combate ao vírus, como a Coreia do Sul e a Nova Zelândia.
A crise financeira, provocada pelo isolamento imposto pelo novo coronavírus, é terrível para os empresários e pior ainda para os trabalhadores. Os desempregados, trabalhadores informais e outros estão lá nas absurdas filas criadas pela Caixa (vide alternativas no texto anterior) para o auxílio emergencial por três meses.
Alguns poucos setores da economia, no entanto, estão faturando neste período. Entre eles, as farmácias, mercearias e supermercados. As primeiras registraram, no último mês, um aumento no faturamento na ordem de 50%. Com relação aos supermercados, não consegui os últimos dados. Certamente superior ao das farmácias.
Já imaginou quantas pessoas se alimentavam fora antes da pandemia? Hoje, com os restaurantes e bares fechados, o único caminho tem sido apelar para as compras nos supermercados e cozinhar em casa. O supermercado aqui perto coloca álcool gel à disposição dos fregueses e desinfeta o carrinho. Poderia dar a mesma atenção a seus funcionários, em especial ao pessoal que fica no caixa. Apesar da utilização da máscara, eles têm um contato muito próximo com os usuários e ainda, sem luvas, recebem o dinheiro diretamente das mãos dos fregueses.
Outro dia, perguntei a uma funcionária se ela estaria recebendo um extra por exercer uma atividade tão exposta ao coronavírus. Ela riu e respondeu: você acha que eles se preocupam? Esperam até um agradecimento por manter o nosso emprego. Não resisti e enviei uma mensagem para a Assessoria de Comunicação da ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados, com cópia para o Sindicato dos Comerciários. Nela, coloquei algumas considerações e perguntei sobre a criação de um bônus para os funcionários de supermercados que lidam diretamente com o público. Ou, melhor ainda, um adicional de insalubridade como recebe o pessoal que trabalha na saúde. Recebi apenas um retorno, perguntando se eu era jornalista e informando que a Assessoria de Comunicação Social só trata com a imprensa.
No mundo, cujas pessoas estão morrendo como aqui no Brasil (ontem chegamos a 10.627 falecimentos com 155.939 infectados com o coronavírus), vários países já reconhecem a exposição ao perigo dos trabalhadores que estão na linha de frente. Nos EUA, cada trabalhador dos setores essenciais irá receber um bônus no final do ano, que varia de 5 a 25 mil dólares. O governo francês, por sua vez, decidiu que as empresas devem recompensar os empregados dos serviços indispensáveis com uma gratificação de mil euros, em torno de R$ 5,5 mil. O bônus deverá ser pago até no máximo 30 de junho.
Já o Canadá resolveu aumentar o salário mínimo daqueles que trabalham em serviços essenciais durante a pandemia. Para tanto, o governo canadense já reservou US$ 3 bilhões para aumentar a remuneração dos trabalhadores essenciais que ganham menos de US$ 1,8 mil por mês, cerca de 10 mil reais. Há dois dias, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, divulgou o seguinte comunicado: “Os trabalhadores estão arriscando sua saúde para nos fornecer cuidados e serviços essenciais, e precisamos garantir que sejam pagos adequadamente pelo trabalho que realizam todos os dias. Estamos intensificando e trabalhando com as províncias para dar um aumento salarial tão necessário aos canadenses que estão ajudando a manter nosso país e nossa economia durante este período difícil”.
No mínimo, fica o exemplo.