
Se não, deveríamos estar. Para quem já viveu outras épocas, é fácil identificar a campanha eleitoral do ex-juiz Moro, que condenou o presidente Lula sem provas, e que depois foi atender ao Bolsonaro como subserviente ministro de justiça. Na esplanada, Moro apoiou o presidente nos mais abjetos projetos. Só foi demitido quando Bolsonaro viu que estava criando uma cobra em seu jardim. Dispensado, Moro virou-se contra seu patrão e se lançou candidato com o apoio mercadológico da lava jato. Para se distanciar de todos os políticos, o braço publicitário de Moro, a lava jato, retorna à mídia contra figuras conhecidas da política brasileira de diversos partidos. Não importa se o caso tem 5, 10 anos, o importante é ganhar a mídia. O que a rede globo assume, como sempre, o vergonhoso papel de porta-voz. A lava jato elegeu Bolsonaro e agora quer eleger seu substituto.
Mais importante do que a campanha do Moro, que será desmascarada em sua hora, o que todo mundo quer saber mesmo é sobre a vacina contra o coronavírus. Eu também quero saber. Também gostaria de saber qual, quando e quanto vai custar. Para ilustrar a nossa conversar, dei um passeio pelas páginas estrangeiras e brasileiras sobre o tema.
Antes, vale lembrar a origem da palavra vacina. O termo deriva do latim “vaccinus”, que significa “derivado da vaca”. O nome está relacionado a uma descoberta do médico inglês Edward Jenner que, em 1796, inventou a vacina contra a varíola ao observar que muitas pessoas que ordenhavam vacas não contraiam a doença, pois já haviam adquirido a varíola bovina. Ela só foi erradicada há 40 anos, quando a 33ª Assembleia Mundial da Saúde declarou oficialmente que “o mundo e todos os seus povos estão livres da varíola”. Estima-se que ao longo do século XX, o vírus tenha causado mais de 300 milhões de mortes.
A nossa urgência, no entanto, nem sempre faz par com o processo de produzir uma vacina. No entanto, até mesmo os cientistas estão admirados com a rapidez das descobertas e ensaios atuais. Nunca foi assim tão célere. A mais rápida até agora foi a do sarampo. O vírus foi identificado em 1953 e a vacina foi aprovada em 1963, apenas 10 anos após a epidemia. Mesmo assim, o sarampo continua matando. Segundo a OMS, cerca de 140 mil pessoas morreram da doença em 2018. O Brasil registrou mais de 13 mil casos de sarampo em 2019, com 15 mortes.
Com relação ao coronavírus, felizmente as pesquisas estão caminhando muito mais rápido. Os pesquisadores estão ganhando terreno, sobrepondo etapas. A OMS informa que há 163 vacinas em desenvolvimento no mundo, sendo que 23 delas já entraram nas fases clínicas de testes com humanos. Depois de passar por uma fase pré-clínica, todas elas têm de cumprir pelo menos três etapas (informação colhida no site Olhar Digital):
- A vacina candidata precisa produzir com sucesso uma resposta imune em ensaios clínicos. Isso significa testar a vacina em um número reduzido de pessoas para verificar sua segurança, possíveis efeitos colaterais e medir a resposta imunológica.
- Com os dados obtidos na primeira etapa e as dosagens ideais, os testes começam a envolver centenas de pessoas. Parte do grupo irá receber a vacina e outra apenas um placebo, com o objetivo de saber como o organismo responde ao tratamento. Mais testes para observar efeitos colaterais raros e definir a dosagem adequada.
- Na terceira fase, a vacina será aplicada a milhares de pessoas. Geralmente, este processo, assim como sua aprovação pelos órgãos reguladores, demora vários anos. Como a ética não permite que os pesquisadores infectem os voluntários, eles deverão entrar em contato com o vírus em áreas de maior incidência. Este é um dos motivos pelo qual o Brasil foi escolhido para a etapa 3 das duas vacinas que estão em estágio mais avançado. A partir dos resultados e sua aprovação, a vacina poderá ser ou não distribuída para a população. O principal objetivo é provar que os benefícios da vacina são maiores que seus riscos.
A pergunta continua: quando teremos a vacina? Outro dia, o diretor-executivo da Organização Mundial de Saúde, Michael Ryan, declarou que as pessoas só começarão a receber a vacina contra a Covi-19 em 2021. Segundo ele, é preciso ter uma vacina segura e eficaz, mas também garantir escala na produção e distribuição. Ele também lembrou que as vacinas, em geral, não são 100% eficazes e que “precisamos garantir justiça em sua distribuição”. Não sei se ele estava pensando em uma notícia publicada no Estadão de que os EUA teriam comprado, por US$ 1,950 bilhão, toda a produção de vacinas da Pfizer e da alemã BioNtech para 2020. A Pfizer, depois de negar, acabou confirmando a venda. Quem pode confiar num Donald Trump às vésperas de uma eleição? Vale lembrar que a Casa Branca já investiu mais de 2 bilhões nos principais laboratórios. A União Europeia, por sua vez, reservou 7,4 bilhões de euros (quase 45 bilhões de reais) para financiar as pesquisas. A França, Alemanha, Itália e Holanda já assinaram um acordo com a AstraZeneca para garantir o fornecimento de 300 milhões de doses (curiosamente, mais do que a soma de suas populações).
Apesar das declarações do diretor da OMS, alguns laboratórios estão sinalizando a possibilidade de encerrar 2020 com as vacinas prontas e distribuídas. Vamos aguardar e esperar que eles consigam. Mesmo tendo pavor de injeção, não vejo a hora de ser vacinado contra o vírus. O que eu não sei é se vai sobrar vacina para nós, moças e rapazes latino-americanos. Ou quando seremos atendidos. O que sabemos é que, há mais de 60 dias, não temos nem ministro da Saúde. E ainda temos um presidente que, mesmo infectado, receita cloroquina até para suas emas.
Finalmente, com relação ao preço da vacina, cada laboratório diz uma coisa. Em audiência no Congresso dos EUA, dois fabricantes, Johnson & Johnson e AstraZeneca, declararam que irão colocar suas vacinas no mercado a preço de custo que, segundo eles, será em torno de 2,5 euros por unidade (pouco mais de 15 reais). Já outros laboratórios, como a Pfizer e a Moderna, disseram que as vacinas serão vendidas com lucro. A Rússia declarou que a sua vacina será distribuída gratuitamente pelo serviço de saúde. Mas tem de ser russo, o que não é meu caso. O melhor ficou com a China. O presidente Xi Jinping declarou, em reunião com a OMS na semana passada, que a vacina chinesa contra a Covid-19 será um “bem público global” e que, assim que esteja desenvolvida e pronta para o uso, será disponibilizada para todo o mundo gratuitamente.
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