
Campanhas milionárias do agronegócio são divulgadas pela grande mídia. Em especial na rede globo, cujos proprietários são grandes produtores rurais. Imagens mostram plantações e colheitas com máquinas fantásticas e cortam para os produtos nos supermercados. O telespectador pouco informado não tem como duvidar: é uma maravilha, o que seríamos de nós sem o agronegócio.
É verdade que o agronegócio, além de distribuir muita riqueza a seus poucos proprietários, traz divisas importantes para o Brasil. As exportações do agronegócio chegaram a mais de 10 bilhões de dólares em junho passado. Só a soja ficou com mais da metade da exportação brasileira. Também é verdade que não sabemos até quando alguns países continuarão a comprar do Brasil. Há um movimento internacional contra o nosso país pelas políticas negacionistas do governo atual com relação ao meio ambiente e na flexibilização das regras para fiscalização e aplicação de agrotóxicos. Ou seja, breve o agronegócio pode começar a perder tradicionais importadores.
Concordar que agro é tech não é difícil. Aquelas máquinas imensas que devem substituir centenas de trabalhadores, podem ser consideradas tech. Já aceitar que é pop fica mais difícil. De popular não tem nada. E ainda são responsáveis por diversos problemas ambientais, pois desequilibram o ecossistema e provocam o empobrecimento do solo. Mas dizer que agro é tudo, é demais. É uma mentira deslavada, principalmente quando a propaganda leva o telespectador a imaginar que aquela produção rica e tech vai estar nas vendas e nos supermercados.
Não vai estar não. Aquelas monoculturas são para exportação, que é o negócio do agro. Quem coloca o alimento nas prateleiras das vendas e nas gôndolas dos supermercados leva o nome de agricultura familiar. Segundo a ONU, cerca de 80% de toda a comida do planeta vem desse tipo de produção.
No Brasil, a agricultura familiar envolve aproximadamente 4,4 milhões de famílias e é responsável por gerar renda para mais de 70% dos brasileiros que vivem no campo. De acordo com o censo agropecuário de 2017, realizado pelo IBGE, 77% dos estabelecimentos rurais no Brasil são classificados como sendo de agricultura familiar.
Ainda assim, esses pequenos produtores, que são os responsáveis em colocar o alimento nas mesas dos brasileiros, têm acesso a apenas 14% de todo o financiamento disponível para a agricultura. O grosso vai para os grandes negócios, para a agro continuar a ser cada vez mais tech.
Outro importante parceiro para garantir o alimento ao brasileiro tem sido o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), por intermédio de seus assentamentos. A agricultura familiar do MST, localizada no Rio Grande do Sul, é a maior produtora de arroz orgânico da América Latina. O que sobra no mercado interno é exportado para diversos países, como EUA, Portugal, Itália, China e Emirados Árabes. Por falar em MST, o movimento já doou, desde o início da pandemia, mais de 3.400 toneladas de alimentos.
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Um comentário em “Agro é tech. Agro é pop. Agro é tudo. Será mesmo?”