
Tudo indica que foi durante a dinastia Tang (619 a 907 d.C.) que os chineses inventaram e passaram a utilizar o papel-moeda em suas transações comerciais. No século XIII, o navegador veneziano Marco Polo registrou o curioso sistema monetário que ele encontrou na China. A Europa só veio adotar as cédulas de dinheiro no século XVII e o primeiro país europeu a implantar o papel-moeda foi a Suécia, em 1661. Aqui, o papel-moeda surgiu em 1771. Hoje, com um aumento de 35% durante a pandemia, o total de dinheiro em circulação no Brasil chega a R$ 311,2 bilhões.
É interessante notar que a China, embora tenha criado o papel-moeda, é o primeiro país a anunciar sua morte. Lá, as notas e moedas estão sendo substituídas pelo dinheiro digital. Com o advento da pandemia, o processo foi acelerado pelo Banco do Povo da China com a criação do criptodinheiro, que pode ser transferido de um celular sem necessidade de conexão à internet.
Pesquisa do Banco Central indica que 90% dos brasileiros realizam pagamentos ou fazem compra em dinheiro vivo. O cartão de débito fica com uma fatia de 52% e o de crédito com 46%. No entanto, é importante assinalar que a utilização de dinheiro pela população é para compras de baixo valor, entre 10 a 20 reais. Para valores maiores, a preferência é pelo cartão de débito, crédito ou transferência bancária.
Com o anúncio da cédula de 200 reais e a quantidade de dinheiro vivo utilizada por traficantes, cambistas de jogo de bicho e milicianos, andei pesquisando a nossa moeda nas últimas décadas. A moeda brasileira, na tentativa de controlar a inflação, perdeu, desde 1942, nada menos do que 18 zeros. Ou seja, recolocando os zeros, 1 real seria $ 2.750.000.000.000.000.000,00.
Sabemos que não é crime fazer pagamentos com dinheiro vivo. No entanto, fica sempre a pergunta, o porquê de se utilizar milhares de cédulas e não o prático depósito em conta. A bandidagem sabe que qualquer valor acima de 10 mil reais tem de ser comunicado ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o mesmo COAF que flagrou a tramoia das rachadinhas (crime de peculato) do Flávio Bolsonaro por intermédio do Queiróz e com a participação de milicianos (The Intercept Brasil).
A família do presidente Bolsonaro é useira e vezeira nas movimentações ao vivo. Segundo levantamento d’O Globo, o valor corrigido do leva e traz da família chega a quase 3 milhões de reais. Nada menos do que 7 quilos e meio em notas de 100 reais. Como é de pequeno que o pepino toma forma, o Carlos Bolsonaro, então com apenas 20 anos, já andava com uma mochila cheia de dinheiro vivo para comprar apartamentos no Rio. Na escritura do apartamento comprado pelo Eduardo no Rio consta que parcela foi paga “em moeda corrente do país, contada e achada certa”. Nem é preciso traduzir.
Já o outro irmão, o Flávio das rachadinhas, resolveu aplicar sua técnica em uma fantástica loja de chocolate. Fantástica porque era a única do mundo que não vendia mais chocolate na páscoa. O movimento maior era quando ocorria o pagamento do 13º salário dos funcionários da Assembleia Legislativa do Rio. Com a quebra do sigilo bancário pela Justiça, foram encontrados nada menos do que 1.512 depósitos em dinheiro vivo na contabilidade da loja.
Os filhotes têm a quem puxar. O exemplo vem do pai, Jair, que fez uma doação irregular 10 mil em dinheiro vivo para a campanha do Carlos. Uma resolução do TSE determina que valores acima de R$ 1.064,10 só podem ser feitos por transferência bancária. Já a primeira ex do Jair e mãe dos três vivaldinos, Rogéria, também comprou um apartamento no Rio quando o marido era deputado federal. Em dinheiro vivo, claro.
Para completar o lustro do quadro familiar, a madrasta dos meninos e atual primeira-dama, Michelle, recebeu em sua conta bancária 27 cheques do Queiroz e de sua mulher, Márcia, no valor total de 89 mil reais. Milhões de pessoas utilizaram as redes sociais para saber o motivo dos depósitos. Quando foi diretamente perguntado por um repórter, o nosso educado e democrático presidente respondeu: “vontade de encher tua boca com uma porrada, tá? Seu safado”.
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