A farsa do golpe baixo

Véspera de mais um aniversário do golpe militar de 1º de abril de 1964, eis que o capitão volta a ameaçar os brasileiros – vivos e mortos – com um golpe. Para tanto, aproveitou a retirada do obtuso Ernesto Araújo das Relações Exteriores para uma troca de cadeiras em outros cargos. 

Para mostrar seu poder de fogo, o capitão demitiu um general que não acatou sua ordem de afastar, dos comandos militares, um general, um brigadeiro e um almirante. Foi o que bastou para muita gente acreditar que haveria um golpe. Durante a semana, a trupe palaciana já avisara que a corda estava esticando. 

Na esperança de ser o primeiro violino da charanga, o deputado bolsonarista Vitor Hugo queria votação em plenário de um projeto para dar ao capitão o poder de acionar o dispositivo constitucional de “mobilização nacional”. Com ele, o capitão teria absoluta concentração de poderes, inclusive sobre as polícias militares dos governos estaduais. Apesar do nome, o deputado é fraco de leitura e não sabia que, pela Constituição, o dispositivo só pode ser utilizado em caso de agressão estrangeira.

Ontem, autoridades civis e militares, incluindo o presidente do Senado e o vice-presidente, general Mourão, declararam que não haverá golpe.

É muito estranho quando, vira e mexe, a nação tenha de ouvir que não haverá golpe. Assim como não passa um mês sem que o capitão-presidente não faça uma ameaça, às vezes explícita. 

Vale lembrar que, naquela manifestação contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (3 de maio de 2020), o capitão declarou que as Forças Armadas estavam ao lado de seu governo. A fala provocou uma nota de seis ex-ministros da Defesa, reafirmando o compromisso dos militares com a democracia e que as Forças Armadas são instituições de Estado. Outros oficiais-generais avaliaram, pela imprensa, que o presidente tentou fazer política do capital da instituição.

É claro que temos no Brasil militares golpistas, aliados do capitão e saudosos da ditadura. No entanto, o Brasil de hoje é muito diferente daquele que vivemos na década de 1960.

Ontem, ao tomar posse como novo da Defesa, o general Braga Netto declarou que o “movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil”. É verdade. Não podemos nunca esquecer as mais tristes páginas de nossa história recente, com seus mortos, suas torturas e seus governos militares antidemocráticos. 

Lembrar sempre: ditadura nunca mais.

No mesmo dia, o Brasil bateu, mais uma vez, o recorde de mortes pela Covid-19. Foram 3.780 brasileiras e brasileiros mortos em apenas 24 horas. 

Enquanto a nação enterra seus filhos, um canalha ameaça com um golpe. Sujo e baixo, como ele próprio.

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Publicado por blogdocondearthur

Publicitário, jornalista e escritor

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